Delegação do Grupo do Partido Popular Europeu no Parlamento Europeu com o Papa em 18/3/2022 (Vatican Media)

O Papa: Europa precisa de "inspiração elevada" para enfrentar os desafios atuais

A responsabilidade dos políticos cristãos, o riquíssimo patrimônio da Doutrina Social da Igreja no qual inspirar-se no trabalho cotidiano, a ideia de uma Europa que saiba conjugar a unidade e a diversidade das culturas, a necessidade de uma visão elevada da política que torne concreto o sonho da fraternidade e assegure a todos os homens e mulheres do continente uma vida que respeite o ser humano.

Estes são alguns dos conteúdos da mensagem enviada pelo Papa Francisco ao presidente do Grupo do Partido Popular Europeu no Parlamento Europeu, Manfred Weber. O texto tem a data de 9 de junho, dia em que estava agendada a audiência com os parlamentares do PPE, posteriormente cancelada devido à internação do Papa na Policlínica Gemelli.

Francisco recorda a sua visita ao Parlamento Europeu em novembro de 2014 e deseja oferecer algumas reflexões. A primeira decorre da constatação do pouco interesse do cidadão comum pelo Parlamento Europeu em relação às primeiras eleições dos membros da instituição, pelo que é necessário, escreve, “cuidar bem da relação entre cidadãos e parlamentares” .

Este é um problema clássico das democracias representativas. E se já é difícil manter vivo o vínculo dentro de cada país, com maior razão o é para o Parlamento Europeu, que está ainda mais “distante”. Mas, por outro lado, hoje a comunicação pode ajudar muito a superar as distâncias.

Um segundo ponto é o pluralismo, previsível em um grande grupo parlamentar, mas sublinha o Papa Francisco, sobre alguns princípios e valores éticos “é preciso estar unidos” e para isso é necessária uma formação adequada dos seus membros. E observa:

É normal que também vocês tenham necessidade de momentos de estudo e de reflexão para aprofundar e discutir as questões eticamente mais relevantes. É um desafio apaixonante, que se joga sobretudo ao nível da consciência, e que evidencia também a qualidade de quem faz política. Os políticos cristãos deveriam distinguir-se pela seriedade com que abordam os problemas, rejeitando soluções oportunistas e mantendo sempre firmes os critérios da dignidade da pessoa e do bem comum.

Francisco indica "um riquíssimo patrimônio ao qual recorrer para levar sua contribuição original à política europeia, ou seja, a Doutrina Social da Igreja" e, em particular, destaca os dois princípios de solidariedade e subsidiariedade:

Existem aspectos ético-políticos, ligados a cada um desses dois princípios, que vocês compartilham com colegas de diferentes filiações, que respectivamente enfatizam um ou outro; mas o entrelaçamento de ambos, o fato de os ativar conjuntamente e de os fazer funcionar de modo complementar, isto é próprio do pensamento social e econômico de inspiração cristã e, portanto, é confiado particularmente à vossa responsabilidade.

Fundamental depois continua o Papa Francisco, é possuir "a visão de uma Europa que conjugue a unidade e a diversidade", que leve em conta a variedade das diferentes culturas e identidades dos povos e junto consiga, com suas instituições e iniciativas, a garantir "que este riquíssimo mosaico componha figuras coerentes":

E para isso é necessária uma forte inspiração, uma “alma”, gosto de dizer são necessários “sonhos”. São necessários valores elevados e de uma visão política elevada. Com isso não pretendo diminuir a importância da gestão ordinária, da boa administração normal, pelo contrário, se essa é boa já é muito. Mas isso não basta, não basta para sustentar uma Europa que se defronta com os grandes desafios globais do século XXI. Para enfrentar tais desafios como uma Europa unida, é preciso uma inspiração elevada e forte.

O pensamento de Francisco se volta para a "aposta original" dos pais fundadores da unidade europeia de chamar os parlamentares a valorizar seus ensinamentos, indo além da ideia de uma organização política voltada exclusivamente para a proteção dos interesses de suas nações, para construir um lugar onde todos possam viver uma vida "fraterna e justa". Neste sentido, a fraternidade, "o grande 'sonho' - escreve o Papa - que partilhei com toda a Igreja e com todos os homens e mulheres de boa vontade", pode ser uma "fonte de inspiração" para dar à Europa uma nova alma por meio de  "um projeto de dimensão mundial". O Papa explica seus pensamentos:

Considero que os políticos cristãos de hoje deveriam ser reconhecidos por sua capacidade de traduzir o grande sonho da fraternidade em ações concretas de boa política em todos os níveis: local, nacional, internacional. Por exemplo: desafios como o da migração, ou o do cuidado do planeta, parece-me que só podem ser enfrentados a partir deste grande princípio inspirador: a fraternidade humana.

O Papa insiste em chamar a atenção para o princípio inspirador da construção paulatinamente crescente de uma Europa unida, depois das tragédias das guerras do século passado. E escreve:

Que ideal, senão aquele de gerar um espaço onde se possa viver em liberdade, justiça e paz, respeitando-se todos na diversidade? Hoje este projeto está sendo provado em um mundo globalizado, mas pode ser relançado a partir da inspiração original, que é mais atual do que nunca e frutífera não apenas para a Europa, mas para toda a família humana.

Aproximando-se da conclusão, o Papa em sua mensagem convida a olhar para os jovens que são os primeiros a pensar sobre sua vida dentro de um horizonte europeu no qual se movem, estudam e trabalham. “Olhemos para eles – exorta–, para os jovens, e pensemos numa Europa e num mundo à altura dos seus sonhos”.

(Fonte: Vatican News, por Adriana Masotti - Cidade do Vaticano)

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