O Papa Francisco na Praça São Pedro (VATICAN MEDIA Divisione Foto)

Papa escreve ao núncio na Rússia: guerra, grave ferida infligida à família humana

Mais uma vez o Papa Francisco pegou caneta e papel, assim como fez em 19 de novembro com o núncio na Ucrânia, e enviou uma carta, datada de 12 de dezembro, ao seu representante na Federação Russa, dom Giovanni d'Aniello, para expressar, em primeiro lugar, sua tristeza por uma guerra exaustiva e prolongada que representa uma “grave ferida infligida à família humana”, e para incentivar “esforços diplomáticos renovados” para conter o conflito e trazer a paz.

Espero que os esforços humanitários destinados aos mais vulneráveis ​​possam abrir caminho a esforços diplomáticos renovados, necessários para deter a progressão do conflito e alcançar a tão esperada paz.

 

Perto de quem sofre

 

Uma paz “muito esperada”, de fato, mas que ainda, mais de mil dias após o início da agressão russa, parece um objetivo distante. Entretanto, em quase três anos de bombardeios, assassinatos, feridos, prisões, há milhares de mortos no chão e nas casas, um rio de lágrimas derramadas por famílias desfeitas. Francisco – que desde o início do conflito promove aquele princípio de “igual proximidade” com quem sofre, típico do Papa, pastor de toda a Igreja, mas também da diplomacia pontifícia – torna-se um “intérprete”, como escreve, desta dor.

 

Grito de dor

 

A dor “de milhares de mães, pais e filhos que choram os seus entes queridos caídos na guerra ou que se angustiam pelos desaparecidos, feitos prisioneiros ou feridos, sejam militares ou civis”.

 

O seu grito eleva-se a Deus, invocando a paz em vez da guerra, o diálogo em vez do barulho das armas, a solidariedade em vez de interesses partidários, porque nunca se pode matar em nome de Deus.

 

Reconstruir a paz

 

“A dolorosa e prolongada duração dessa guerra nos interpela com urgência, chamando-nos ao dever de refletir juntos sobre como aliviar o sofrimento das pessoas afetadas e como reconstruir a paz”, escreve o Papa na carta assinada em 12 de dezembro, em vista do Natal, divulgada neste sábado, 14. “Estamos todos ligados por uma responsabilidade recíproca, no espírito da verdadeira fraternidade humana”, acrescenta o Pontífice, reiterando sua preocupação pessoal com as “notícias sobre o sofrimento causado pelo conflito nessa região”.

 

Os irmãos Karamazov e o sofrimento dos inocentes

 

Notícias de ataques e mísseis, de civis mortos sob bombas, de fornecimentos de armas e de um cessar-fogo que parece retroceder. O que aflige o Papa Francisco é sobretudo o sofrimento dos inocentes. Para denunciá-lo, na carta ele recorre à cultura russa, citando um de seus autores mais queridos, Fiódor Dostoiévski, e seu “Os Irmãos Karamazov”. Em particular, recorda o diálogo, contido no quarto capítulo do Livro V, no qual Ivan, um dos irmãos, explica a Alëša de rejeitar o mundo de Deus por causa do sofrimento humano, em particular das crianças. Cena citada diversas vezes pelo Papa nestes anos de pontificado.

 

O sofrimento infligido aos inocentes é uma poderosa denúncia de todas as formas de violência.

 

Esforços diplomáticos renovados

 

O Papa Francisco escreve que se une ao grito de quem sofre “com o coração aflito pelas vidas destruídas, pela destruição e pelo sofrimento, e também pela grave ferida infligida à família humana por esta guerra”. “Espero que os esforços humanitários voltados para os mais vulneráveis ​​possam abrir caminho a esforços diplomáticos renovados, necessários para deter a progressão do conflito e alcançar a tão esperada paz”, afirma o Pontífice.

 

Implorar o dom da paz

 

Por fim, olhando para “este caminho comum”, na carta recorda as palavras de “um sábio homem de Deus, tão querido pelo povo russo”, São Serafim de Sarov: “Adquira o espírito de paz e milhares ao seu redor serão salvos". Suas palavras na carta também são relatadas em cirílico: “Стяжи дух мирен и тысячи вокруг тебя спасутся”.

 

Concluindo, o Papa convida através do núncio d'Aniello “toda pessoa de boa vontade a unir-se na oração a Deus, implorando o dom da paz, e no compromisso de contribuir para este nobre objetivo, para o bem de toda a humanidade”.

 

(Fonte – Vatican News)

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